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O Professor de Educação Infantil Bilíngue, sua Formação e as Leis que o Amparam


professora educação infantil bilíngue e menino bilíngue

Recentemente, o tema educação bilíngue tem sido colocado em evidência pelas mídias, principalmente quando se trata de educação infantil bilíngue. Como já citamos anteriormente esta modalidade de educação não possui uma lei.

Algumas escolas de Curitiba-PR pressionaram a Secretaria de Educação para que recorresse ao Conselho Estadual de Educação. Essa movimentação resultou no Parece nº 26/12 (PARANÁ, 2012), que esclarece o que é educação bilíngue e internacional e normatiza alguns aspectos desta área, porém um fator importante não foi discutido com a seriedade que seria necessária: a formação do docente que atuará no sistema de ensino bilíngue.

No referido Parecer, o tema é citado brevemente no capítulo denominado “Considerações”, que especifica apenas: “O corpo docente deve possuir diploma superior que o habilite a dar aulas em língua estrangeira, com proficiência certificada” (PARANÁ, 2012, p.03).

Já ressaltamos também que uma proposta forte de educação bilíngue permitirá que o educando aprenda através de suas vivências em um ambiente transdisciplinar, onde a língua é apenas a matéria unificadora do conhecimento. Repetimos mais uma vez, a educação bilíngue, portanto, é apenas um rótulo para a complexa prática que esta modalidade implica, pois tem como objetivo o desenvolvimento global da criança. Indagamos, então: não seria necessária uma especificação dessa caracterização do profissional bilíngue, descrita no parecer, já que as escolas oferecem a modalidade de educação bilíngue desde os dois anos de idade?

Em se tratando de educação infantil espera-se que o professor possua uma responsabilidade que vai além dos sistemas tradicionais e fragmentados de educação, sendo responsável por promover vivências significativas, embasadas em uma compreensão do desenvolvimento da criança e, ainda mediar todo esse processo utilizando uma segunda língua.

Consta nos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009, p. 54) que a formação dos professores é um dos fatores que mais influenciam a qualidade da educação. Professores bem formados são capazes de trabalhar em equipe e refletir sobre sua prática pedagógica e dos demais, fatores importantes para a construção de uma educação infantil de qualidade. O docente que atua com essa faixa etária possui muitas responsabilidades e, dentre suas múltiplas tarefas, tem como objetivo cuidar e educar crianças de zero até seis anos de idade.

Como referências a serem levadas em conta na hora de escolher um professor de educação infantil, no que diz respeito à formação, é preciso analisar, segundo os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009, p.38), se esse tem no mínimo a habilitação em nível médio na modalidade normal ou se é graduado em Pedagogia. Isso porque os objetivos embutidos nos currículos de educação infantil visam possibilitar práticas que busquem articular experiências e os múltiplos saberes das crianças para um desenvolvimento integral.

A falta de especificação sobre a formação do profissional para atuar na modalidade da educação infantil bilíngue exige pesquisa, principalmente quanto à qualificação do professor bilíngue na primeira etapa da educação básica. Antunes, coordenadora pedagógica da escola Aubrick, afirma para o Jornal Gazeta do Povo (FELIX, 2014), ser difícil encontrar professores qualificados, afinal, “não é qualquer inglês que ocupa uma criança por período integral dentro da escola”.

As instituições de Educação Infantil possuem o papel de acompanhar o desenvolvimento da criança promovendo vivências que tornem o aprendizado significativo para a criança.

A educação deve contemplar o pensamento de que os seres humanos nascem no mundo e precisam ser acolhidos. Em cada aprendizagem nasce um início, um ser que se atualiza em cada ação e em cada palavra. Assim, para que se torne possível uma educação pela infância, talvez pudéssemos definir que uma das tarefas da educação seja criar espaços e condições para a experiência deixando de se preocupar em transformar as crianças em algo distinto do que são. (PILLOTO, 2009, p.23)

De maneira genérica, Vygostky (1998) conceitua mediação como um processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação, quando esta deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. O autor ainda completa afirmando que a mediação através de instrumentos e signos, como já explicitamos anteriormente, é um processo essencial para a formação dos sujeitos.

Podemos afirmar, então, que o aprendizado torna-se mais significativo quando o professor, durante a prática educativa, promove diálogos para a troca de experiências, enriquecendo o crescimento dos alunos e possibilitando-lhes criar hipóteses, considerando seu nível de desenvolvimento. A aplicação dessa prática educativa dentro da educação infantil bilíngue é ainda mais desafiadora.

Quando falamos em ensino bilíngue infantil torna-se ainda mais complexa a discussão, por se tratar de um ramo novo da educação, pela inexistência de uma legislação concisa e de uma definição específica. O pouco respaldo que rege essa modalidade de educação dá margens para diferentes interpretações e para a falta de discernimento das características do profissional que pode atuar com a educação infantil bilíngue.

Carvalho, entrevistada pelo Jornal Gazeta do Povo (FELIX, 2014) confirma essa dicotomia, ao tratar da formação dos docentes que atuam na educação infantil bilíngue, afirmando que problemas podem ser ocasionados já que os cursos oferecidos pelas instituições superiores do país não oferecem respaldo para a formação de um professor bilíngue. Os cursos de licenciaturas no Brasil não têm como objetivo formar profissionais bilíngues, o curso de Pedagogia não tem nenhuma ligação com o aprendizado de uma língua estrangeira e, por outro lado, o curso de Letras, diretamente relacionado ao ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira ou de Libras, não possui em sua grade curricular disciplinas que abordem especificamente a educação infantil.

Na citação de Rocha et al. (2010, p.96) fica evidenciado o desafio do professor bilíngue:

O ensino de língua como uma segunda língua para crianças numa perspectiva bilíngue vai muito além de ensinar palavras soltas ou musiquinhas. Trata-se de um ensino que, além de levar em conta a realidade dos alunos, seja significativo ao que se faz na idade deles. Além disso, por se tratar de educação bilíngue e não de intensificação de inglês, o desafio é ainda maior, pois deve visar à formação integral da criança e não apenas a sua proficiência linguística na língua-alvo.

O profissional que ingressar nessa área precisa estar ciente desse desafio, pois esse modelo de educação vai muito além da proficiência linguística e do trabalho com músicas infantis.

No Brasil, para a docência na educação infantil a qualificação exigida é o curso de Pedagogia, mas quando abordamos a educação infantil bilíngue, a exigência deveria ser ainda maior, pois o profissional precisa dominar uma língua estrangeira. Porém, existe uma grande dificuldade para se encontrar pedagogos proficientes em uma língua estrangeira ou, até mesmo, o contrário, professores licenciados em Letras que além da proficiência linguística tenham conhecimentos da área pedagógica.

Silva (2009, apud ROCHA et al., 2010) aponta que a maior parte das grandes escolas aceita uma concepção de que os professores com cursos de inglês e oficinas voltadas para a prática pedagógica fornecem a base para lecionar, suprindo as necessidades mais urgentes ligadas à prática.

A falta de regulamentação legal para a formação desse professor nos faz refletir se a formação que esses professores possuem é suficiente para dar conta da complexa prática pedagógica adotada pelos modelos de educação infantil bilíngue no Brasil, por isso realizamos a pesquisa e análise do perfil do profissional de educação infantil bilíngue na nossa realidade, ou seja, na cidade de Curitiba, que serão apresentadas no próximo capítulo.


(Esse texto faz parte do meu artigo de conclusão de curso em Pedagogia, Educação Infantil Bilíngue: um estudo sobre o perfil dos profissionais que atuam na área, de 2014).


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