Esse é um tópico que se sentarmos em uma grande roda de professores bilíngues e de inglês, dará horas de conversa com profissionais questionando o porquê comemorar essa data brasileira, com a justificativa que não faz parte do inglês, e por outro lado teríamos profissionais defendendo uma visão cultural e sistêmica de aprendizagem de uma língua adicional.
Da minha perspectiva política pedagógica, a Festa Junina deve sim ser comemorada em inglês, sem esse papo de que não faz parte da cultura da língua, nem vou entrar no mérito que devido a imigração a data deriva de rituais europeus, que falavam… isso mesmo inglês. Mas vamos partir do conceito que: o comportamento linguístico, ou seja, a escolha da língua de instrução para um contexto educativo, somos nós professores quem escolhemos e essa organização pedagógica engloba a “parte cheia do planejamento” (JUNQUEIRA FILHO, 2017), em outras palavras é uma escolha do professor para se relacionar com as crianças. E além do mais, é preciso pensar:
“[N]o contexto de educação bilíngue, que por muito tempo foi e ainda é influenciado por uma cultura dominante – as do Estados Unidos da América – composto por um ensino segmentado das regras gramaticais, que valoriza a repetição para aquisição da pronúncia perfeita descontextualizado da realidade e um amontoado de tradições que historicamente não fazem sentido serem valorizadas” (JACOB, 2020, pg, 5).
As escolhas dos cânones culturais, dentre eles as datas comemorativas, perseverados dentro do contexto escolar, dizem respeito a visão de sujeito e sociedade que a escola / professor querem perpetuar. Continuar negando a cultura local, com a desculpa que não pertence a uma língua, é limitar as possibilidades comunicativas, afinal é através de suas experiências subjetivas e imediatas que a criança é capaz de construir novos conhecimentos. Assim somos capazes de propor um ensino que:
“Utilizando o inglês como instrumento mediador que amplia nossas possibilidades de dialogar, sem restringir-se a transmissão segmentada pela forma artificial, mas sim ao que é relacionado ao ser humano, a comunicação” (JACOB, 2020, pg 11).
No Ateliê Bilíngue Kids, durante o mês de junho, as crianças exploraram o vocabulário relacionado à data comemorativa: June’s Festival. Utilizamos cartões de imagem e obras de arte com a técnica de “naive art” para durante a assembleia matinal provocar uma efusão verbal nas crianças e ouvir suas percepções sobre os símbolos e apresentar um vocabulário já conhecido na língua materna, só que agora em inglês.
Essa primeira conversa, levou-nos ao convite de representar visualmente os atributos relacionados ao vocabulário da June’s Festival, para compreender os elementos mais marcantes para as crianças dentro dessa apropriação cultural. Na relação com as crianças ficou evidente o encantamento pelas bandeirolas, pelos jogos e brincadeiras e pela dança e expressões corporais.
Por meio da nossa percepção e interpretação dos interesses das crianças, planejamos nossa rota e apresentamos alguns convites para as crianças construírem conhecimento e adquirirem a língua adicional, dentre eles:
Individualmente as crianças pintaram bandeirolas grandes para propor a repetição de um vocabulário específico através da arte.
Jogos e brincadeiras típicas, com foco no boliche para desenvolver conceitos lógicos matemáticos.
Reprodução de uma arte coletiva inspirada na técnica “naive art” em macro escala, mais uma vez a arte como suporte para ampliar e repetir o vocabulário.
Danças "típicas", aqui utilizamos o estilo de música country para propor dança e movimento livre para as crianças e ampliar seu repertório cultural.
“Interagindo com outras pessoas, a criança, gradativamente, apropria-se da linguagem e internaliza seu conteúdo social, quer dizer, seus significados. Considerando que os significados, cristalizados e fixados na linguagem, constituem uma expressão viva do modo de existência da humanidade em cada estágio de seu processo histórico, a criança, ao apropriar-se desses significados, assimila o conhecimento (a experiência das gerações precedentes), reelaborando-o de acordo com seus interesses e necessidades” (PALANGANA, 2015, p. 129).
Por meio de vivências que contemplam as necessidades das crianças, ou como diria Junqueira Filho (2017), “o que elas querem porque precisam”, nos relacionamos através da cultura das crianças, utilizando uma língua adicional de orientação como ferramenta de ensino para promover uma experiência educativa (DEWEY), com conteúdos programáticos através da língua adicional.
Viu como é possível aprender inglês com a Festa Junina. Que tal tentar no próximo ano?
Referências:
FILHO, Gabriel. Junqueira. Linguagens Geradoras: seleção e articulação de conteúdos em Educação Infantil. Porto Alegre: Mediação, 2017.
JACOB, Ana. O Professor de Educação Infantil Bilíngue: Um Atelierista de Linguagem. Revista Ensaios Pedagógicos, v.10, n.1, 2020.
PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e Aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do social. São Paulo: Summus, 2015.
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