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Ed. Bilíngue Infantil: um estudo sobre o perfil dos profissionais - considerações finais


Este trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil dos profissionais que atuam em escolas de educação infantil bilíngue, modalidade de educação que no Brasil vem se desenvolvendo dos últimos 30 anos para cá. Elucidamos que apesar de o assunto estar em alta, o tema educação bilíngue ainda exige um debate e diálogos a respeito, pois se faz necessário uma caracterização dessa prática e normas claras que encaminhem seu saber fazer. Isto comprova-se no discurso das professoras entrevistadas ao relatarem as dificuldades que encontram em seu cotidiano, que estão bastante relacionadas à falta de informação sobre a educação bilíngue. Baker (2006) explica essa dificuldade esclarecendo a complexidade dessa prática, que tem o intuito de utilizar um segundo idioma como instrumento mediador no ensino-aprendizagem de outros conteúdos de forma articulada.

O que nos trouxe preocupação foi que dentre as quatro entrevistadas, três são licenciadas em Letras Português-Inglês, sem possuírem formação em pedagogia. Segundo Wolffowitz-Sanches (2009), o curso de Letras não forma professores para atuarem na educação infantil, por não abordarem os conhecimentos pedagógicos necessários para se atuar nesta etapa da educação, uma vez que as licenciaturas não possuem em sua grade curricular disciplinas e práticas voltadas para essa faixa etária. Somente a licenciatura em Pedagogia, é recomendada pelos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006) na primeira etapa da educação básica. Porém nem mesmo a ciência da educação, a Pedagogia, de momento propicia respaldo suficiente para o profissional dar conta dos objetivos da educação infantil bilíngue, pois falta aos formados em Pedagogia bagagem teórica e prática para o trabalho com a língua estrangeira. Consequentemente, apesar de algumas poucas iniciativas de cursos em nível de extensão e pós-graduação, faltam no mercado de trabalho, profissionais capacitados para atuar no ramo da educação infantil bilíngue.

A realidade abordada evidencia a necessidade do aperfeiçoamento profissional dessas professoras devido a sua formação inicial, já que nenhuma das entrevistadas tinha o plano de trabalhar com educação infantil bilíngue, além da falta de uma educação continuada, já que todas as entrevistadas afirmaram fazer apenas leituras e trocas de experiências entre colegas de trabalho, como instrumento de atualização. Apesar de serem formas eficazes de diálogo, não se constitui como prática formativa. Os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,2006), ao tratar da formação dos professores, esclarece que, quando o profissional não possuir a formação suficiente para o exercício do magistério, este com o auxílio da instituição de ensino em que atua deve buscar a qualificação exigida. Da mesma forma espera-se que o professor busque um constante aperfeiçoamento de sua prática e de seus conhecimentos, pois ao professor de educação infantil bilíngue não basta ter domínio da língua, a ação pedagógica também tem grande importância e cabe ao professor a competência de utilizar diversos recursos que favoreçam um ensino-aprendizagem significativo. Pois devemos lembrar que ensinar um segundo idioma para adultos é muito diferente de se ensinar um segundo idioma para crianças. A criança exige que o professor utilize outros recursos e metodologias de acordo com os sua subjetividade e necessidades.

Na fala das profissionais entrevistadas notamos uma forte preocupação com o ensino da segunda língua, como também dificuldades e falta de respaldo para elaborar suas práticas e mediar as situações adversas existentes na educação infantil, isto porque um professor de educação infantil bilíngue precisa ter além do domínio da língua uma série de conhecimentos pedagógicos relacionados as especificidades da infância.

A educação bilíngue surgiu para suprir algumas necessidades do mundo pós-moderno, que exige que a escola forme cidadãos críticos e autônomos, aliada a crença dos pais de quanto antes se aprender uma segunda língua reconhecida, melhor. Porém, no Brasil, a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) não legisla sobre a educação bilíngue de línguas estrangeiras, sendo assim, não há parâmetros para os profissionais dessa área. E também temos a inexistência da língua estrangeira nos Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (BRASIL, 2010), dificultando a implementação dessa prática dentro desta etapa da educação.

Acredito que pensar sobre a educação bilíngue é reconhecer que, devido às expectativas e evoluções da nossa sociedade, este é um fenômeno que atinge um número cada vez maior de escolas particulares em grandes cidades brasileiras, confirmando o bilinguismo de elite, Marcelino (2009). Loazno, diretora pedagógica da escola Up School em entrevista ao Jornal Gazeta do Povo (FELIX, 2014) afirma que recebem muitos currículos, mas pouquíssimos restam na etapa final, pois boa parte são bons educadores, mas não falam inglês e também têm o grupo de profissionais que é fluente, porém não possui “jeito” com crianças pequenas.

Avaliando a formação das professoras de educação infantil bilíngue da cidade de Curitiba-PR, percebemos a necessidade de se iniciar uma discussão pautada em resultados concretos, que permitirá responder questões sobre quais áreas do conhecimento são necessárias que professores de educação infantil bilíngue aprofundem seus conhecimentos, para que sua prática pedagógica seja significativa e atenda a concepção da proposta bilíngue oferecida pelas instituições de ensino.

Este estudo tem o intuito de se tornar a válvula desencadeadora para uma discussão necessária e complexa que tem a intenção de, futuramente, servir como fundamentação para a elaboração de um curso que qualifique e, talvez, gradue o profissional bilíngue, que atue na educação infantil e, até mesmo, para fomentar um diálogo que requeira uma legislação que regulamente essa modalidade de educação em uma escala nacional.


(Esse texto faz parte do meu artigo de conclusão de curso em Pedagogia, Educação Infantil Bilíngue: um estudo sobre o perfil dos profissionais que atuam na área, de 2014).

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