Certamente você já escutou o termo Documentação Pedagógica, mas você sabe o real significado dessa estratégia didática? De onde surgiu essa ideia? Quem pode realizar a Documentações Pedagógicas? Se aplica a qualquer realidade? Essas são algumas questões que iremos desvendar ao longo desse texto, por meio de analises teóricas que explicam a origem e os processos da Documentação Pedagógica.
Em seus mais de 50 anos de prática educativa revolucionaria, Reggio Emilia, traz em sua bagagem de experiências pedagógicas, abordagens colaborativas de criação de significado em relação ao ensino democrático e a visão de crianças, professores e famílias potentes. Loris Malaguzzi (1920-1994) foi quem coordenou essa empreitada sociocultural, deixando um legado de ferramentas político pedagógicas para reinventar a educação de crianças pequenas no norte da Itália. Segundo Hoyuelos (2004), atelierista espanhol, a Documentação Pedagógica teve seu protótipo lançado por Malaguzzi ao sugerir que professores “elaborassem um diário, onde deveriam, com todo cuidado, anotar e refletir sobre tudo aquilo que acontecia em sala e que “recolhesse a essência da vida na escola”. Para posteriormente dialogar sobre as escolhas feitas para anotação e seus significados na construção de conhecimento sobre como as crianças aprendem.
De forma generalizada podemos caracterizar a Documentação Pedagógica como uma estratégia avaliativa do processo de desenvolvimento de crianças em contexto escolar. Mas é preciso especificar as minúcias dessa forma de dar significado as vivências dos pequenos, que busca ir além de evidenciar quanto cada indivíduo aprendeu no final de cada ciclo. Essa forma de avaliar busca evidenciar os processos de aquisição de conhecimento, ou seja, as estratégias que as crianças utilizam para mobilizar linguagens e construir conhecimentos. Ou como pontua Dahlerg (apud EDWARDS, 2016, p. 229) ao caracterizar a Documentação Pedagógica como: “processo de tornar o trabalho pedagógico visível ao diálogo, interpretação, contestação e transformação”.
Desta perspectiva a Documentação Pedagógica é encarada como um ato político pedagógico, pois tem embutido em seu caráter avaliativo práticas democráticas de ensino, que trabalham de forma antagônica as práticas tradicionais de avaliação, que são pautadas estritamente em medidores padronizados de “qualidade”. Ao documentar as situações de aprendizagem, os contextos investigativos e o cotidiano da escola, o professor está aprendendo sobre como as crianças constroem conhecimento, além de estar desenvolvendo sua "professoralidade" por meio de uma autoavaliação. Permitindo que o processo avaliativo cumpra seu papel de se aplicar aos demais membros da comunidade escolar e não apenas aos estudantes.
Ao compartilhar a Documentação Pedagógica com os demais professores, coordenadores, crianças, famílias, e até com a parte administrativa da escola, o professor mostra “ao mundo a imagem de uma infância potente” (BARBOSA et al. 2017), que desejamos comunicar na busca de declarar o papel da escola como espaço de criação de história, cultura e conhecimento, banindo percepções bancárias da educação contemporânea. Compartilhar a Documentação Pedagógica é um princípio da prática, mas também uma provocação, - como diriam em Reggio, - para repensar a aprendizagem.
Mas é possível executar a prática da Documentação Pedagógica em nosso contexto de Educação Infantil? Quando há intencionalidade pedagógica no ato de educar e práxis para embasar o processo, a resposta é sim. Mas não é tão simples assim! Primeiro você precisa estar em uma instituição escolar e com um grupo de profissionais que compartilhem essa visão de educação com você, para que possa ter validade como instrumento didático avaliativo do processo das crianças onde você atua. A Documentação Pedagógica é um ato coletivo, “não é possível documentar sozinho, porque sobre o documentado é necessário diálogo (...) e a aceitar a crítica”. Documentar é interpretar, supor algo sobre um pequeno sujeito, embasado em teorias e experiências pedagógicas, validando diferentes percepções sobre a mesma experiência.
A Documentação Pedagógica pode ter diferentes formatos como por exemplo vídeos, fotos, mini histórias, áudios, textos, desenhos, etc. e ocupar locais variados da escola, dependo a quem ela é destinada. Como foi citado anteriormente é preciso fazer uma escolha quando se documenta, questões como: O que quero comunicar? Para quem estou falando? O que vou registrar? Podem ajudar o professor a guiar a prática de documentar.
Como professor, para que esse processo realmente tenha validade dentro de seus princípios epistemológicos, precisamos manter em mente que é necessário nos organizarmos para que exista: consenso sobre a legitimação da prática da Documentação Pedagógica pela instituição, registros (vídeos, fotos, anotações) para que sejam contrastadas, diálogos para análise do documentado, estudo constante para aprimoramento das lentes teóricas, olhar sensível para a infância e coragem para se desconstruir diariamente de certezas não tão mais sólidas.