top of page

A Educação Infantil, as Famílias e a Quarentena

Desde março de 2020 entramos em um espiral de dúvidas e incertezas, sobre um futuro inesperado e algumas crises pela frente para enfrentar. Escolas e famílias, cada uma dentro de sua razão se sentindo traídos, abandonados e sobrecarregados... as escolas (principalmente as de educação infantil) sem amparo real dos órgãos que deveriam colaborar com sua organização, e as famílias pagando a conta, com as crianças em casa e precisando dar conta do trabalho, da casa e das crianças com suas atividades e encontros remotos. Que sujeitos queremos formar?

Apesar da falta de orientação por conta dos órgãos governamentais, penso que a escola está perdendo uma oportunidade preciosa de estabelecer uma nova relação com as famílias que atende. Reproduzindo uma prática “tradicional”, de reprodução de conteúdos e com falta de princípios que colaborem para emancipação do conhecimento de forma que futuramente traga um impacto social, através da ação desses que hoje são discentes, - é na infância que se planta a semente. Que sujeitos queremos formar?

Estamos deixando de aproveitar esse momento para impactar as famílias, através da contextualização de toda essa informação que estão vomitando sobre nós, colaborar com os pais no entendimento de que nossas ações demonstram mesmo que inconscientemente a visão de sujeito que formaremos para sociedade. Em vez de demandar atividades, deveríamos colaborar com o desenvolvimento de relações significativas e respeitosas para e com o desenvolvimento das crianças. Que sujeitos queremos formar?

Aos pais deixo um conselho. Vocês não precisam dar conta de todas essas atividades, a escola está mais uma vez demandando para vocês o que deveria ser sua responsabilidade, é como as lições de casa, sabem? Em vez da escola assumir seu real papel, insiste em demandar para famílias atividades que não engrandecem a psique humana, apenas reafirmam sistemas e mecanismos de doutrinação. Que sujeitos queremos formar?

Esse seria o momento de a escola estar aberta ao diálogo com as famílias, compartilhar informações sobre o desenvolvimento infantil, explicar como utilizar o cotidiano da casa para promover o desenvolvimento das crianças, ajudar as famílias a compreender como se comunicar de forma positiva com os pequenos, como lidar com as birras enquanto precisa tocar o barco do trabalho, como transmitir as informações necessárias para que elas não fiquem a quem dos acontecimentos do mundo, entre outros aspectos de como manter uma rotina com crianças, seres imprevisíveis, por perto. Mas o que vemos são professores reproduzirem práticas de vídeos iguais a milhares de outros que já existem no youtube... que sujeitos queremos formar?

Meus amigos professores sinto muito em dizer que ao estimular que famílias gastem seu tempo com as crianças, realizando atividades, infelizmente não promove o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo. Apenas reforçamos o papel da escola como local de entretenimento na educação infantil, descaracterizando toda a luta pelo reconhecimento da educação infantil como parte da educação básica e crianças como sujeitos de direitos e protagonistas de suas ações. Que sujeitos queremos formar?

Retorno a Saviani, e sua pedagogia histórico crítica, reforçando que o importante não é ensinar e aprender, o importante é aprender a aprender, aprender a estudar, aprender a buscar conhecimentos... é preciso reconhecer que o sujeito crítico reflexivo se forma através da exploração da síntese de múltiplas determinações que são resultado do concreto, da realidade. Será mesmo que é o momento de continuar seguindo a grade curricular? Sem contextualizar outros aspectos relativos ao que vivemos, e colaborar com as famílias com conteúdos que informem de maneira significativa, declarando o caráter político e pedagógico incumbido a escola, de forma a refletir no convívio e princípios a serem desenvolvidos em casa com as crianças... que sujeitos queremos formar?


Comments


bottom of page