As crianças por ainda não possuírem um vocabulário extenso em sua própria língua, acabam adquirindo uma segunda língua com naturalidade como a língua materna, tornando-se fluentes de forma natural e acelerada. Essa afirmação é uma das tantas que colaboram para uma nova demanda educacional, que inclui a oferta do ensino bilíngue desde a primeira infância. Mas o que devemos levar em conta antes de expor os pequenos a uma segunda língua, já que nos dizem que quanto antes melhor?
Quando falamos em ensino bilíngue, estamos falando de algo diferente de “aulinhas de inglês”, devemos pensar além do ensino da língua estrangeira como código linguístico, mas como prática social, no qual o significado é sistematizado socialmente. Propor contextos de experiências lúdicas que mobilizem a língua em situações reais. De acordo com Williams (1995), “a criança precisa de atividades que a levem a explorar o seu mundo, tais como histórias, músicas, drama, etc., ou seja, atividades que fazem parte do mundo da criança para que ela use a L2 se divertindo”, confirmando os eixos propostos pela Base Nacional Curricular Comum – BNCC como meio de aprendizagem para as crianças, sendo o brincar e o interagir.
Porém não é tão simples assim, não adianta o professor comandar o ritmo dos acontecimentos da relação com a criança, assim não flui...a língua não atinge seu proposito social e continua condicionando sujeitos que não sabem utilizar a língua em diferentes contextos. É preciso olhar e escuta sensível, para saber o momento certo de convidar a criança a mobilizar a língua estrangeira em situações de “inputs” positivos, para valorizar as hipóteses linguísticas propostas pela “gramática da fantasia”, para emprestar o conhecimento linguístico em termos vigostkiano e utilizar a língua materna como ferramenta de ensino. Para estar com a criança e propor vivências significativas não basta como professor cantar, dançar e contar história, é preciso conhecimento teórico proposto como prática, práxis.
E em casa, como os pais podem dar continuidade para essa vivência bilíngue que a criança tem no contexto educacional? Revuz (2002), pontua que “aprender uma língua é sempre, um pouco, tornar-se um outro”, a criança costuma associar a língua ao sujeito, então as vezes não se sente confortável ao mobilizar uma língua diferente com os pais, pois o vínculo afetivo foi estabelecido a língua materna. Visto isso, é preciso fazer uma escolha, e utilizar apenas uma língua de instrução ao se comunicar com as crianças. Isso não impede que se demonstre interesse pelo que a criança está aprendendo, é muito importante que os pequenos compreendam e sintam que a língua estrangeira é igualmente importante e valorizada como sua língua materna.
Assim, em vez de questionar sobre o que o pequeno está aprendendo, ou solicitar que fale ou cante algo na língua estrangeira, causando certa, tensão. Busque assistir perto dele um vídeo relacionado ao vocabulário que ele domina, escute uma música que ele já sabe cantar sem falar nada, coloco um canal de desenho em inglês, faça um combinado no jantar vamos falar em inglês e o mais importante de tudo, quando a criança falar, “agora volta a falar normal” ou “não quero falar assim mais” nós a respeitamos.
Texto de Setembro de 2018 com algumas alterações de Maio 2020
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